sexta-feira, 15 de novembro de 2013

REFLEXO HODIERNO

Sou um privilegiado.
No entanto, não dou nenhum valor a isto.
E faço deste privilégio uma inutilidade.
E desperdiço todas as oportunidades que me são dadas.
E fecho todas as portas que me são abertas.

Desperdicei todos os conselhos, dos sábios e dos loucos.
Não nasci em desgraça.
Não fui criado em ignorância.
Nunca fui obrigado a fazer o que não quis.

Quando pequeno tive o privilégio de ir à escola.
Ali aprendi a ler, escrever, interpretar e raciocinar.
Todavia, não acho nenhuma utilidade para isto.
Pois nisso tudo só vejo cansaço e perda de tempo.

Cresci e a vida sempre foi a meu favor.
Tenho uma ótima saúde, como bem, não passo apertos.
Tenho amigos, trabalho, mulher e religião.
Porém não consigo aproveitar as qualidades que estes podem proporcionar.

Simplesmente fecho os olhos e desprezo tudo e a todos.
Permaneço inerte, sem posições ou opiniões.
Não me intrometo em política, nem na vida alheia.
Não me preocupo com meus problemas, nem com os de ninguém.

Não tenho opiniões formadas
Desprezo quem as tem.
Não gosto de coisas erradas
Não gosto de ninguém.

Minha realidade subsiste.
A teimosia me persegue.
Às vezes tenho inveja, soberba e vaidades.
Não tenho, todavia, nenhuma ambição.

Tenho um corpo fisicamente perfeito.
Familiares sempre ao redor.
Casa, aposento e leito.
Pão, água e manjares.
Vestes, benefícios, égide e broquel.

Quem, pois, é mais infeliz que eu?
Quem, pois, desperdiça tanto a felicidade como eu?
Existe, por acaso, alguém com mais oportunidades?

Assim sou eu, típico cidadão brasileiro contemporâneo.

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